5 de jul. de 2007

PRA COMEÇAR

Resolvi ter um blog. Outro dia eu estava num show da Zélia Duncan, no teatro Rival, e meu chão tremeu. Bom, sempre treme, há dez anos vou aos shows dela e há dez anos meu chão treme. Mas desta vez derrubou uns tijolos e estou sendo obrigada a algumas desconstruções. Pra depois construir de novo. E o blog com isso?
Naquela noite ouvi coisas como "come on baby apostar na falta de exatidão" , "benditas coisas que eu não fiz... meus verdes ainda não maduros... os espaços que ainda procuro..." e "chega de tanta sala fechada, tanta fala calada, tanta água parada" . Eu já tinha ouvido, mas ouvir e ver, ao vivo, nesse exato momento da minha vida, derrubou os tijolos.
Não vou contar a estória da minha vida, mas questionei minha timidez, meu medo de me expor. Não seria a timidez uma vaidade? Por que tanta preocupação com o inevitável julgamento alheio sobre mim? O que pode acontecer de tão grave se eu mostrar meus sentimentos? Lembrei da raposa e as uvas, eu me vi nela e não gostei. Seria mais positivo ela buscar ajuda, pegar um banquinho, uma escada, e não matar o desejo pelas uvas só porque elas não estavam acessíveis. Posso cair da escada, mas quero as uvas ou não? Quanto eu as quero?
Vendo a Zélia naquela noite senti minhas uvas mudando de cor, saindo do verde para o vinho e me enchendo a boca d´água. Minhas uvas são tocar bateria e escrever. Em São Paulo eu tinha uma desculpa, trabalhava demais, não tinha tempo nem disposição, me sentia sufocada. Mas agora, aqui no Rio, trabalhando seis horas, sendo impregnada de natureza por todos os lados, a desculpa não cola mais. Está tudo tão mais leve que a desculpa começou a pesar na consciência. E aí veio a Zélia, mais uma vez.
Quanto ao banquinho, já tirei o pó dele e me sentei pra recomeçar a estudar bateria. Estou dando um jeito. Não é o que dizem, que quem quer fazer uma coisa encontra um jeito e quem não quer encontra uma desculpa?
Quanto à escada, é este blog. Aqui vou me dar ao luxo de escrever o que sentir vontade, vou postar meus escritos, minhas letras de futuras músicas, boas ou não, bobas ou não, vou me expor e tentar esquecer que os outros vão julgar (por favor) o que virem. Será o meu exercício pra tentar um dia saborear minhas uvas. Pra começar.
* Créditos das músicas citadas: "Tudo ou Nada" - Itamar Assumpção e Alice Ruiz; "Benditas" - Mart´nália e Zélia Duncan; "Chega Disso" - Alzira Espíndola e Arruda. Todas do CD "Pré Pós Tudo Bossa Band", da Zélia Duncan, com exceção da última, apenas no DVD de mesmo nome.

Um comentário:

Unknown disse...

É muito bom te ver desabrochar!!! Já perdeu tempo demais ou será esse o momento exato??
Estou aqui sempre, com você, pra você, te amo querida!