NO PRINCÍPIO ERA O VERSO
No princípio era o verbo. E logo a necessidade de sujeitos de suas ações. E depois adjetivos para qualificá-los. E pronomes para chamá-los. E já não era só o verbo. Nem princípio. Era já um mundo, o universo. Por que o mundo não chama univerbo se no princípio era o verbo? No princípio era o verso, pois já era intrínseca a fome de encantamento de tantos sujeitos.
17 de abr. de 2015
SOBRE MÃES E CORAGEM
I LOVE RIO
(só quem já chegou no Rio de avião pode entender)
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudade
Rio, teu mar, praias sem fim
Rio, você foi feito pra mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós, pousar
23 de ago. de 2012
BLÁ
14 de ago. de 2011
DESTINO
(esta acabou de nascer)
10 de ago. de 2011
SOBRE DEVORAR
15 de mar. de 2011
A Maravilhosa Cozinha de Simone Sou...
A Maravilhosa Cozinha de Simone Sou...
10 de nov. de 2010
QUASE EM SEGREDO
QUASE EM SEGREDO
9 de abr. de 2010
IR
IR
Até quero te deixar ir
Você, que nem mesmo veio pra mim
Embora estivesse sempre aqui
Mas, se te deixo partir,
O que mais haverá de existir
Que não tenha cara de fim?
MAIS UM ESCRITO
Desde que aconteceu você em mim, uma luzinha apagada me acompanha. Eu, sempre tão iluminada com tantas luzes acesas, agora convivo com esta pequena escuridão. Uma sombra, talvez.
Dizem que a escuridão não existe, que é só ausência de luz. Mas é certo que a "ausência de", existe.
Você, toda ausência, é minha escuridãozinha.
Não, na verdade você é o céu de Copa no reveillon, toneladas de fogos de artifício no meu coração! Não ter você é que é a escuridão.
Tenho medo. Do escuro. De você. Da ausência de você. E de não conseguir ser de novo completamente clara.
INCONTESTÁVEL
24 de jun. de 2009
OLHA
OLHA
(junho/2008)
Olha
Fiz chover no céu do seu sorriso
Me afoguei em cada não que eu disse
Afastei você de mim
Possa
Tanta água compreender o rio
Transbordar meu coração vazio
Converter o não em sim
Contra o tempo não há meio
Nem condição
Talvez fim vire começo
De solidão
Ou não...
Meus tropeços
Já não cabem nesse chão vencido
Não arrisco mais nenhum palpite
Quis jogar e me perdi
19 de mar. de 2009
O QUE É
19/03/09
Longe é qualquer lugar onde meus olhos não te alcancem
Durante é o que dura mais que o antes
Saudade é o depois do que é bom
Logo é quando o depois tem pressa
Dúvida é quando se quer tudo
Como eu quero você
Perto, logo, durante
E ainda mais que antes
24 de jan. de 2009
ISSO NÃO VAI DAR EM NADA
Chove tanto e te espero chegar
Como chega a primavera,
A hora, a sorte, a noite da festa
Isso não vai dar em nada
Eu que te espere sentada
E à toa
Logo, logo tudo alaga
Lembrança, pensamento
Calçada
E meu coração apertado
A chuva regando os telhados
Lavando o que é sal em mim
E eu te querendo mais perto
Mais pele, mais ventre
Mais frente e verso
Isso não vai dar em nada
Eu que te sofra calada
Que me doa
Chove tanto e te espero passar
Como passa dor de barriga,
Manha, febre e preguiça
Como passa a chuva chovida
Deixando o chão inseguro
Eu não pedi pra chover
Mas se é assim que é pra ser...
GOSTO DE SIM
Só se for por você
Tanto sol em pleno inverno
Quero tanto, não nego
Você assim bem perto
Do meu coração
Longe de todo não
Só se for sem você
Tanto frio em pleno inferno
Peço tanto, não nego
Mas eu nem sei ao certo
Se tal oração
Livra de ser um não
E é tudo, então...
O céu não me dá ouvido
O tempo sem pressa alguma
E, nessa, sua mudez profunda...
Mas são dias tão lindos...
E seu sorriso dança pra mim
Felicidade maluca essa
E fica tudo então
Com cheiro e gosto de sim
24 de dez. de 2008
SEM NOME
Meu coração palpita
Enquanto meu olhar te evita
Só meu coração é livre
O resto é triste...
3 de abr. de 2008
ASSOMBRO
ASSOMBRO
Você é um assombro
Eu não queria, mas me escondo
Qualquer distração me entregaria
E levaria meu chão
O que me protegeria
Se até meu silêncio me denuncia?
O medo de te amar é insano
Posto que já te amo
E já mora no abismo meu coração
CANSEI
CANSEI
Cansei de pedir asilo
No seu mundo inatingível
E ver minha alma desnudada
Ignorada por sua mudez impassível
Cansei de pedir visto
Pra adentrar seu território tão restrito
E ver minha alma desarmada
Barrada por sua miopia incorrigível
De repente já não é tão atraente
Que você seja assim tão diferente
Não sei o que se passa em sua mente
E nem como se sente realmente
Mas o gelo queima
Talvez não seja mais interessante
Fingir que é tudo mesmo irrelevante
Nossa real proximidade é tão distante
Nossa irreal proximidade é sufocante
E o gelo queima
Cansei de pedir licença
Pra ultrapassar sua fronteira vigiada
Cansei de tudo ou nada
Não quero mais jogar confete
E ver minha fantasia rasgada
2 de ago. de 2007
FOME DO IMPOSSÍVEL
Acordei com uma sensação estranha ontem. Quase como se fosse uma fome do impossível. Fome é urgente, traz desconforto e tem preferências. Eu me lembro da Bethânia cantando algo como “...minha fome não é qualquer coisa que mata...” A minha também não. Uma chatice isso de ser seletivo, mas é antes uma sina que uma escolha. Dizem que quem tem fome não escolhe o alimento, mas isso só vale em termos físicos e não é deste tipo de fome que estou falando. Aliás, meu corpo físico não é dado a grandes fomes, ele se contenta com pouco. Aí, pra compensar, nasci com uma alma faminta. No caso específico de ontem, acordei com uma fome maluca de tocar violoncelo para uma pessoa. Um oco inexplicável. Só que não toco violoncelo, nem tenho um. A única alternativa que encontrei foi ouvir um CD com violoncelo pra ver se aquela sonoridade me dava alguma ilusão de saciedade. Fechei os olhos, senti pulsando na mão o atrito do arco nas cordas, degustei a sutileza daqueles graves com a mesma suavidade com que eram emitidos, senti o cheiro da madeira e quase ouvi o chão ranger sob o peso daquele instrumento. Conforme absorvia a música, ia sentindo algum calor alcançar aquele oco. Quando abri os olhos cheguei de muito longe. Eu não vou saber como teria sido realmente tocar o violoncelo, e para a pessoa que eu queria, mas consegui não morrer de fome. Como cobrar sanidade se às vezes só o delírio salva?
1 de ago. de 2007
BORBOLETAS AZUIS
BORBOLETAS AZUIS
Quero seus olhos
Pousando em mim
Como borboletas azuis
Tranqüilos e ardentes
Repousando em mim
Como o sol no mar
Depois de um dia quente
E quero seus olhos infinitos
Vagando felizes
Perdidos em meus desenhos
Como borboletas e sóis
Entre Netuno e Vênus
24 de jul. de 2007
I LOVE SAMPA
18 de jul. de 2007
MENINO-TATU
Menino-barriga, menino-robô
Menino-sem-graça, menino-cansado
Menino-pele-de-sol-olhos-de-areia
Menino-bonito, menino-rotina
Menino-luta, menino-tábua-de-salvação
Menino-sim, menino-não
Menino-eu
Menino-solidão
JEITINHO BRASILEIRO
JEITINHO BRASILEIRO
Dignidade aviltada é corriqueiro
O que vale mesmo é o dinheiro
Não há o que não se consiga
Com o jeitinho brasileiro
No reino da esperteza
Favores, agrados, conchavos
São sinais da realeza
Qual o limite do que se admite?
Mentira, certo e errado
Quem é culpado?
Todo mundo é tão esperto
Lei de Gérson
Propina
Macunaíma
Nossa suprema idéia
De nação verde-amarela
Passa mais por Macabéa
Na vasta feira das facilidades
Gabaritos, lugares na fila
Negócios da China, pirataria
São tantos os patrocínios
(Patriocídios)
Pra cada rei tantos bobos da côrte
Babando o ovo e sorrindo sem dentes
Pra nossa paz aparente
Crentes que são espertos
ÁTONOS
ÁTONOS
Adoro os sons de ti
Os “ãs”, os “ons”
Os “us”, os “is”
Os “nãos”, os “sins”
Os átonos tonificados
Os graves em altos brados
Tons e sons bem temperados
Ai meu coração descompassado!
OLHOS E RESPIRAÇÃO
OLHOS E RESPIRAÇÃO
Chão sem chão
Sou olhos e respiração
Sem respiração
Sinto o ar escasso
Perto ou fora do seu abraço
Enquanto sonho com seu abraço
Sua imagem assim
Intensa
Desliza em mim
Imensa
Cheia de mãos
Vai logo tocando em tudo
Todo meu mundo
Mas no fundo é tudo não
Então
Ardo e respiro
Ou tento
E o ar que me falta se te vejo
É o mesmo que assopra meu desejo
17 de jul. de 2007
NÃO DEU
REVIDE
REVIDE
Aqui a violência
Está sempre de mãos dadas
Com as mãos atadas
De quem pode nada
Quem pode nada
Nada tem a perder
E, não o tendo,
Pode tudo
O que é absurdo?
Não dá o que te pedem
Não dá o que te excede
Não dá nada mas quer e de graça
Não planta mas colhe e se farta
E se quem vive na escassez
Cansou de esperar sua vez?
E se quem vive esquecido
Cansou de ser invisível?
E se viver à base da pancada
For revide pela existência ignorada?
CORAÇÃO NA BOCA
CORAÇÃO NA BOCA
A doçura do seu rosto
Me põe o coração na boca
A aflição não é pouca
Mas é boa
E a boca do estômago
Pula e me alcança a garganta
Mas sua doçura é tanta
Que faz carnaval no meu peito
E já nem sei se é o seu jeito
Ou o meu, de te enxergar
5 de jul. de 2007
PRA COMEÇAR
Resolvi ter um blog. Outro dia eu estava num show da Zélia Duncan, no teatro Rival, e meu chão tremeu. Bom, sempre treme, há dez anos vou aos shows dela e há dez anos meu chão treme. Mas desta vez derrubou uns tijolos e estou sendo obrigada a algumas desconstruções. Pra depois construir de novo. E o blog com isso?
Naquela noite ouvi coisas como "come on baby apostar na falta de exatidão" , "benditas coisas que eu não fiz... meus verdes ainda não maduros... os espaços que ainda procuro..." e "chega de tanta sala fechada, tanta fala calada, tanta água parada" . Eu já tinha ouvido, mas ouvir e ver, ao vivo, nesse exato momento da minha vida, derrubou os tijolos.
Não vou contar a estória da minha vida, mas questionei minha timidez, meu medo de me expor. Não seria a timidez uma vaidade? Por que tanta preocupação com o inevitável julgamento alheio sobre mim? O que pode acontecer de tão grave se eu mostrar meus sentimentos? Lembrei da raposa e as uvas, eu me vi nela e não gostei. Seria mais positivo ela buscar ajuda, pegar um banquinho, uma escada, e não matar o desejo pelas uvas só porque elas não estavam acessíveis. Posso cair da escada, mas quero as uvas ou não? Quanto eu as quero?
Vendo a Zélia naquela noite senti minhas uvas mudando de cor, saindo do verde para o vinho e me enchendo a boca d´água. Minhas uvas são tocar bateria e escrever. Em São Paulo eu tinha uma desculpa, trabalhava demais, não tinha tempo nem disposição, me sentia sufocada. Mas agora, aqui no Rio, trabalhando seis horas, sendo impregnada de natureza por todos os lados, a desculpa não cola mais. Está tudo tão mais leve que a desculpa começou a pesar na consciência. E aí veio a Zélia, mais uma vez.
Quanto ao banquinho, já tirei o pó dele e me sentei pra recomeçar a estudar bateria. Estou dando um jeito. Não é o que dizem, que quem quer fazer uma coisa encontra um jeito e quem não quer encontra uma desculpa?
Quanto à escada, é este blog. Aqui vou me dar ao luxo de escrever o que sentir vontade, vou postar meus escritos, minhas letras de futuras músicas, boas ou não, bobas ou não, vou me expor e tentar esquecer que os outros vão julgar (por favor) o que virem. Será o meu exercício pra tentar um dia saborear minhas uvas. Pra começar.
* Créditos das músicas citadas: "Tudo ou Nada" - Itamar Assumpção e Alice Ruiz; "Benditas" - Mart´nália e Zélia Duncan; "Chega Disso" - Alzira Espíndola e Arruda. Todas do CD "Pré Pós Tudo Bossa Band", da Zélia Duncan, com exceção da última, apenas no DVD de mesmo nome.